É COLUNISTA,
ESCRITOR, GANHADOR DO PRÊMIO PULITZER, THOMAS L., FRIEDMAN, THE NEW YORK TIMES,
É COLUNISTA, ESCRITOR, GANHADOR DO PRÊMIO PULITZER, THOMAS L., FRIEDMAN, THE
NEW YORK TIMES - O Estado de S.Paulo
Um ano depois do
violento despertar árabe, os Estados Unidos assumiram dois compromissos
financeiros com o mundo árabe, cada um dos quais começa com os números 1 e 3.
Eles ofereceram às Forças Armadas do Egito
tanques e caças no valor de US$ 1,3 bilhão, e aos estudantes das escolas
públicas libanesas um programa de bolsas de estudo para a universidade, com
base no mérito, no valor de US$ 13,5 milhões, que permite a 117 jovens
libaneses estudar em escolas de estilo americano nas quais se promove a tolerância,
o gênero, a igualdade social e o pensamento crítico. Visitei recentemente o
Egito, estive há pouco no Líbano e posso relatar o seguinte: os US$ 13,5 milhões em bolsas integrais já
mereceram para os Estados Unidos muito mais amizade e estabilidade do que o US$
1,3 bilhão em tanques e caças jamais conseguirão.
Então, que tal os EUA pararem de ser
burros? Que tal pararem de mandar aviões e tanques para um país onde a metade
das mulheres e um quarto dos homens nãos sabem ler e começar a mandar bolsas de
estudo? Ultimamente andei visitando vários países árabes. Tenho passado todo o
tempo disponível conversando com professores e estudantes da escola pública - e
com jovens árabes que estão criando microempresas de tecnologia - e o menor
tempo possível com representantes do governo.
É uma conclusão à qual cheguei com base em
minhas convicções sobre o que realmente impulsionou as revoluções em Túnis e na
Praça Tahrir: os jovens árabes - 70% dos desta região têm menos de 30 anos -,
que se sentiram humilhados e frustrados por terem sido menosprezados. O
despertar árabe foi sua maneira de dizer: queremos a liberdade, a voz, as
ferramentas da educação, os empregos e um governo não corrupto para realizarmos
todo nosso potencial. Foi isso que provocou a revolução.
Sim, as várias Irmandades Muçulmanas
exploraram a abertura criada pelos levantes, pois eram os partidos mais
organizados. Mas se os islâmicos não atenderem às verdadeiras motivações desta
revolução - o anseio pela educação e por empregos e a dignidade que eles
representam - também acabarão enfrentando uma rebelião.
Se os EUA quiserem entrar em sintonia com
as reais aspirações dessas revoluções, terão de estender a outros países do
despertar árabe os US$ 13,5 milhões que o programa de bolsas de estudo da
Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional iniciou no Líbano. A
propósito, tiramos o chapéu para o presidente Barack Obama, a secretária de
Estado Hillary Clinton, o administrador da USAID, Rajiv Shah, e os membros do
Congresso que deram sinal verde para esse programa.
O Irã está construindo barragens e
estradas por todo o Líbano, decorados com faixas com os dizeres "Obrigado,
Irã". Mas ninguém faz fila aqui
para ir à Universidade de Teerã. As pessoas continuam fazendo fila para
conseguir bolsas de estudo dos EUA - aliás, uma das exigências é que os
ganhadores prestem serviço comunitário, de modo que ao mesmo tempo se criem
cidadãos mais conscientes.
A Embaixada dos EUA em Beirute
apresentou-se a quatro estudantes libaneses ganhadores de bolsas deste ano -
que estudam agora ou na Universidade Libanesa-americana ou na Universidade
Haigazian, que oferece moderna formação universitária no estilo americano.
Israa Yassin, de 18 anos, da aldeia de Qab
Elias, que estuda ciências da computação, me disse: "Todo o programa ajuda
a tornar os jovens capazes de transformar esse país no que deveria e pode ser.
Nós somos bons e temos capacidade e podemos fazer muitas coisas, mas ainda não
tivemos a chance. Meu irmão acabou o ensino médio e não pôde estudar na universidade.
Seu futuro realmente parou. Os EUA estão nos dando uma possibilidade de
prestarmos nossa contribuição para um país melhor. Acredito que se nos derem a
oportunidade poderemos mostrar que somos excelentes... Não seremos mais
subestimados. É realmente triste ver toda uma geração nas aldeias libanesas -
centenas de pessoas sem nada para fazer - sem trabalho, sem ir para a
universidade".
Mudança. Depois de obter uma bolsa de
estudos americana, disse Yassin, "minha família e minha comunidade
aprenderam a olhar para os EUA de modo diferente. Por que odiariam quem os está
ajudando?" A notícia das bolsas distribuídas pelos EUA espalhou-se
rapidamente. O programa agora recebe um enorme número de inscrições para o
próximo ano, na maioria de mulheres. Wissal Chaaban, de 18 anos, da cidade de
Trípoli, também frequenta a Universidade Libanesa-americana onde estuda
marketing e me disse: "Temos muitos talentos no Oriente Médio e os jovens
não se sentem valorizados. Eles acham que não têm voz ou não são ouvidos suficientemente".
Esse programa interessa aos EUA, ela afirmou, pois envia jovens para as
universidade que "encorajam a abertura, a aceitar o outro, por mais
diferente que seja, mesmo que seja de outra religião".
Gostaria que o governo americano
concedesse mais bolsas de estudo a cidadãos americanos, mas como essas verbas
se destinam especificamente à ajuda externa, é preciso usá-las de maneira
inteligente. Os EUA podem fornecer ajuda militar - mas na proporção certa.
Em Amã, entrevistei professores da rede pública
na imponente Academia de Pedagogia para Professores Rainha Rania, que trabalha
com uma equipe da Universidade Columbia buscando o aperfeiçoamento dos
professores.
Conversamos sobre o contraste entre as
duas verbas de US$ 13,5 milhões das bolsas americanas e a de US$ 1,3 bilhão em
ajuda militar. Jumana Jabr, professora de inglês de uma escola pública de Amã,
resumiu a questão melhor do que eu: a primeira é para "formar
pessoas", ela disse, "e a outra para matar pessoas". Se os EUA
querem gastar dinheiro treinando soldados, acrescentou, muito bem, "os
professores também são soldados, então por que não gastar o dinheiro nos
treinando? Afinal somos nós que treinamos os soldados com os quais vocês estão
gastando US$ 1,3 bilhão". / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
Fonte: O Estado de São Paulo http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,tanques-cacas-ou-estudo-,868441,0.htm?reload=y
Da imagem
OBS: os grifos são meus.
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