Após 45 anos de
ocupação israelense, solução de dois Estados 'está morta', dizem analistas
Guila Flint
De Tel Aviv para a BBC Brasil
Atualizado
em 4 de junho, 2012 - 10:11 (Brasília) 13:11 GMT
Hebron, na Cisjordânia, foi decorada com bandeiras
israelenses pela primeira vez recentemente
O deslocamento de cerca de 600 mil cidadãos
israelenses para a colonização dos territórios ocupados na Cisjordânia e em
Jerusalém Oriental inviabilizou qualquer tentativa prática de criar um Estado
palestino ao lado de Israel, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Exatamente 45 anos após a guerra conhecida como
Guerra dos Seis Dias, iniciada em 5 de junho de 1967, pensadores palestinos e
israelenses questionam a viabilidade da solução de dois Estados.
A solução, que propõe a criação de um Estado
Palestino independente ao lado de Israel, na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e em
Jerusalém Oriental - territórios ocupados por Israel na guerra de 1967 -, conta
com amplo apoio da comunidade internacional e foi a base para o acordo de Oslo,
assinado em 1993 pelo então primeiro ministro de Israel, Itzhak Rabin, e pelo
então líder palestino, Yasser Arafat.
No entanto, o pesquisador palestino Jad Ishaq
acredita que "a solução de dois Estados está morta".
Ishaq, diretor do Instituto Jerusalém de Pesquisas
Aplicadas, que estuda a situação geopolítica na Cisjordânia e em Jerusalém
Oriental, afirma que "se observamos o mapa atual da Cisjordânia, poderemos
constatar que a criação de um Estado Palestino viável e com continuidade
territorial já não é possível".
Para o pesquisador, a presença de mais de 200 assentamentos
israelenses no território ocupado e a existência da barreira construída por
Israel na Cisjordânia tornam impossível a implementação do plano.
Território fragmentado
"Nas circunstâncias atuais, um Estado
Palestino não teria viabilidade geográfica nem econômica, pois Israel controla
os recursos naturais da Cisjordânia e mais de 60% da área", afirmou Ishaq.
"As áreas palestinas foram fragmentadas e hoje
constituem pequenos enclaves desconectados entre si e cercados por
assentamentos israelenses e por estradas para uso exclusivo dos colonos",
acrescentou.
Ishaq também não acredita que Israel tenha alguma
intenção de retirar os assentamentos.
Fragmentação de território palestino inviabilizaria
criação de Estado, dizem analistas
"Veja a dificuldade que (o primeiro-ministro
Binyamin) Netanyahu está tendo para retirar cinco casas em Beit El",
disse, em referência à decisão da Suprema Corte de Israel que ordenou a
demolição de cinco casas construídas no assentamento de Givat Haulpana, na
região de Ramallah.
De acordo com a Corte, as casas devem ser demolidas
porque foram erguidas em terras privadas e tomadas ilegalmente de palestinos.
No entanto, o governo está enfrentando forte
oposição ao cumprimento da ordem da principal instância judicial de Israel.
Membros do Likud – partido de Netanyahu – se opõem
à demolição das casas e o premiê chegou a propor que as casas sejam
"serradas" e transferidas integralmente para uma base militar
israelense próxima ao assentamento – um projeto que poderia custar cerca de 25
milhões de shekels (cerca de R$ 12 milhões).
Preço a pagar
Para o escritor e jornalista israelense Akiva
Eldar, a solução de dois Estados é inviável "pois o público israelense não
está disposto a pagar o preço".
Para Eldar, o público israelense "não acredita
que a paz com os palestinos seja possível e portanto perdeu a motivação para
tentar alcançá-la".
De acordo com Eldar, "o Parlamento de Israel
demonstra que não existe apoio da opinião pública à solução de dois Estados,
apenas 22 entre 120 deputados a apoiam".
Eldar afirma que durante os 19 anos que se passaram
desde a assinatura do acordo de Oslo, "Israel se moveu na direção contrária,
triplicando o número de colonos nos territórios ocupados".
Solução mista
Diante da crescente inviabilidade da solução de
dois Estados, analistas passam a considerar outras soluções para o conflito
entre israelenses e palestinos.
Um deles é o sociólogo politico Lev Grinberg, da
Universidade Ben Gurion, que propõe "um misto entre a solução de dois
Estados e a solução de um Estado", que seria uma confederação entre dois
Estados nacionais – o israelense e o palestino.
"Proponho a criação de uma União Israelense-Palestina,
que incluiria um governo conjunto e baseado em representação paritária e em
dois Estados democráticos separados".
Palestinos são a maior minoria étnica dentro de
Israel
"Os governos dos dois Estados iriam
administrar tudo que pode ser separado, como educação, terra, saúde, policia,
prefeituras, turismo, cultura, religião, esportes etc.", disse Grinberg.
"O governo da confederação iria cuidar de
todos os assuntos que são inseparáveis, como infraestrutura, comunicações,
energia, transportes, ecologia, os lugares sagrados e Jerusalém",
acrescentou.
Pessimismo
Para Ishaq, "o ideal seria a solução de um
Estado democrático, com total igualdade de direitos entre israelenses e
palestinos".
"Hoje, nós, os palestinos, já somos quase 50%
da população (incluindo a população palestina de Israel e dos territórios
ocupados), e em um Estado democrático poderíamos eleger nossos representantes
no Parlamento", afirmou.
Em toda a área de Israel e nos territórios
palestinos hoje em dia vivem cerca de 5,8 milhões de judeus e 5,5 milhões de
palestinos.
No entanto, segundo Eldar, "os israelenses jamais
abrirão mão do caráter judaico do Estado de Israel, portanto a solução de um
Estado é impossível".
Eldar afirmou que está muito pessimista em relação
ao futuro dos dois povos.
"Diante da inviabilidade da solução de dois
Estados, parece que nossa perspectiva é de algo semelhante ao que aconteceu nos
Bálcãs", em referência aos violentos conflitos étnicos ocorridos na
Bósnia.
Fonte: BBC Brasil http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/06/120604_doisestados_gf.shtml
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