Depois de mais de 15 anos de adiamentos, a compra dos novos aviões militares pode finalmente ser efetivada em 2013, diz o ministro da Defesa, Celso Amorim. Tudo indica que a pior opção - a do Rafale - ficou para trás
Por Paulo JUSTUS
A novela se desenrola há quase 17 anos. Nesse período, o programa
mudou de nome, o modelo dos produtos foi modificado, o preço foi
multiplicado por dez e nada foi decidido. Finalmente, neste ano, o
governo pode autorizar a compra dos 36 caças que vão modernizar a Força
Aérea Brasileira (FAB). Interlocutores do governo dizem que a presidenta
Dilma Rousseff quer escolher o vencedor do projeto FX-2 ainda em 2013.
Embora os aviões só entrem em operação a partir de 2015, ela teria
interesse em colher os frutos da modernização das Forças Armadas
brasileiras nas eleições de 2014. “Tenho grande expectativa (sobre a
definição dos vencedores), mas não tenho bola de cristal”, disse, na
terça-feira 9, o ministro da Defesa, Celso Amorim, quando questionado
sobre o assunto, durante a Feira Internacional de Defesa e Segurança
(Laad), no Rio de Janeiro.
Pelos ares: os EUA, maior máquina de guerra do mundo, oferecem o F-18 ao Brasil
e prometem intercâmbio de tecnologia
A esperança é que o governo abra mão da munição retórica que tem
dominado o tema e finalmente decida armar de fato a defesa aérea do
País. Mas especialistas temem que, mais uma vez, o assunto seja
protelado. “A questão dos caças é meramente política e hoje não
há interesse político sobre esse tema”, avalia Expedito Carlos Bastos,
pesquisador de assuntos militares na Universidade Federal de Juiz de
Fora. “Esse governo vive de retórica.” Três empresas participam
da disputa: a francesa Dassault, com o modelo Rafale, num contrato
avaliado pela própria FAB em US$ 8,2 bilhões; a americana Boeing, com o
avião F-18 Super-Hornet, de US$ 5,4 bilhões; e a sueca Saab, com o
projeto Gripen NG, de US$ 4,3 bilhões.
Na corrida pelos bilhões do governo brasileiro, a Dassault perdeu o
favoritismo inicial, que remontava à época do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, dando espaço para a Boeing. A preferência pelo Rafale
era evidente na parceria entre Lula e o ex-presidente francês Nicolas
Sarkozy. Os dois protagonizaram uma gafe, em setembro de 2009, quando,
numa visita de Sarkozy a Brasília, Lula divulgou uma nota afirmando que
estava negociando a compra do avião francês. A reação dos Estados Unidos
e da Suécia adiou o projeto, que foi colocado na geladeira pela
presidenta Dilma. Águas passadas, Lula e Sarkozy levaram consigo o
principal argumento em defesa do Rafale: a vontade de ambos.
Sarkozy e Lula: vontade dos ex-presidentes é um argumento fraco
em defesa do Rafale, que custaria bem mais caro ao País
Hoje, qual motivo levaria o País a gastar quase US$ 3 bilhões a mais (veja quadro)? Desde
então, a Boeing tem estreitado os laços com o Brasil. Em dezembro do
ano passado, anunciou uma parceria com a Embraer para o desenvolvimento
de tecnologias para aumentar a segurança de procedimentos de pouso, além
do compromisso de construir um centro de pesquisa em São José dos
Campos (SP). “O F-18 é o avião mais adequado ao governo
brasileiro, porque está ainda sendo fabricado e vai ter peças de
reposição pelos próximos 40 anos”, diz Bastos. A Embraer, por sua vez,
fechou acordo de venda de seu Super Tucano para os americanos, mas tem
enfrentado dificuldades no Congresso daquele país para efetivar a
encomenda.
O especialista lembra que a compra dos 36 caças previstos no pacote
inicial é um mínimo para que a Força Aérea Brasileira fique
operacional. A frota dos Mirage 2000, com 30 anos de uso, deve ser
aposentada no fim deste ano. Com isso, toda a defesa aérea brasileira
ficaria a cargo dos F-5, dos anos 1970, que passaram por uma
modernização em 2000. Para o embaixador Rubens Barbosa, presidente do
Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (Fiesp), além da modernização, a frota renovada é
uma necessidade para responder aos novos desafios da defesa: combater o
narcotráfico e o terrorismo e proteger as áreas do pré-sal. “O Brasil
não está efetivamente adequado para essas novas demandas”, diz Barbosa.
Obs: No infográfico os caças Rafale e F-18 estão trocados!
Nosso Comentário: Este processo já se arrastou por tanto tempo, com inúmeros adiamentos, protelações e desculpas, que o mesmo se tornou algo muito tedioso para se acompanhar. Só acredito vendo!
Outrossim, até entendo se a tal "parceria estratégica" com a França se circunscrever ao programa dos submarinos para não se colocar todas as opções num só parceiro. O que não é possível e este infindável quase lá.
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