RIA Novosti
O novo presidente da Venezuela visitará a
Rússia no início de junho, o que por si é um pretexto para discussões entre
céticos e otimistas acerca de perspetivas das exportações de armamentos russos
para a América Latina.
Quando em fevereiro mais um navio com
armas e equipamentos militares russos chegou à cidade venezuelana de Puerto
Cabello, o quinto desde o início do ano, os analistas começaram a falar sobre o
próximo fim dos principais contratos militares entre Moscou e Caracas.
A causa não foi apenas a piora brusca do
estado de saúde do comandante Hugo Chávez, mas também o fato de a Venezuela ter
praticamente esgotado as necessidades de rearmamento de suas Forças Armadas.
Em sete anos de estreita cooperação
técnico-militar, a Rússia forneceu à Venezuela enormes quantidades de
diferentes armamentos, inclusive caças, helicópteros, sistemas de artilharia,
instalações móveis de mísseis para a guarda costeira, sistemas de defesa
antiaérea S-300V, tanques. Na opinião de peritos, atualmente, as Forças Armadas
da Venezuela, pelo grau de equipamento, estão prontas a combater eficazmente
contra um inimigo condicionalmente equiparado a qualquer de seus vizinhos.
Assim, o dirigente da corporação estatal
Tecnologias Russas, Serguei Chemezov, disse recentemente que hoje em dia a
Venezuela está saturada de armamentos, não estando previstos novos
fornecimentos nos próximos tempos. O mesmo faz lembrar Viktor Semenov, chefe de
laboratório do Instituto da América Latina da Academia de Ciências da Rússia.
Por outro lado, o orçamento da Venezuela está consideravelmente esgotado e não
apenas por causa do rearmamento, disse Semenov à Voz da Rússia:
“Os contratos militares concluídos atingem
aproximadamente 11 milhões de dólares. Ao mesmo tempo, em 2012, os recursos
financeiros da Venezuela foram canalizados para garantir a vitória de Hugo
Chávez nas presidenciais em outubro e a de seus apoiantes nas eleições de governadores
em dezembro. Foram utilizados não apenas os próprios recursos, mas também
empréstimos. Nos últimos anos, por exemplo, a China emprestou à Venezuela 36
bilhões de dólares. Atualmente, o défice orçamental da Venezuela constitui
aproximadamente 13%, a taxa inflacionária é alta e os ritmos de crescimento do
PIB se aproximam do zero. Nestas condições, naturalmente, será difícil comprar
alguns novos equipamentos.”
A curto prazo, a cooperação
técnico-militar entre a Rússia e Venezuela pode desenvolver-se principalmente
na área da manutenção dos equipamentos militares já fornecidos, sustenta
Semenov. Não se exclui que sejam ainda concluídos dois projetos
técnico-militares conjuntos: a construção de uma empresa de produção de fuzis
Kalashnikov e de um centro de manutenção de helicópteros russos adquiridos,
inclusive, em outros países da América Latina.
Ao mesmo tempo, na opinião de alguns
analistas, as exportações militares russas ainda não abarcaram todas as
necessidades defensivas da Venezuela. Há alguns anos, o então presidente russo
Dmitri Medvedev disse aos jornalistas, após um encontro com Hugo Chávez, que a
Venezuela pretende também comprar à Rússia armamentos navais.
Naquela altura, em particular, foi
discutida a possibilidade de adquirir submarinos diesel-elétricos da classe
Varshavyanka, lanchas de patrulhamento do projeto 14310 Mirage e lanchas
hovercraft de desembarque do projeto 12061 Murena.
Mas aqui o problema consiste em que, na
área das compras militares navais, a Venezuela por enquanto se orienta para a
União Europeia e não para a Rússia, mantendo contatos bastante estreitos, por
exemplo, com a Espanha, disse à Voz da Rússia o redator-chefe da revista Natsionalnaya
Oborona (Defesa Nacional), Igor Korotchenko.
Na opinião de alguns analistas, o
desenvolvimento futuro da parceria técnico- militar entre Caracas e Moscou pode
ser também impedido pela alteração da política externa da Venezuela pelo novo
presidente Nicolás Maduro. A visita do líder venezuelano a Moscou, marcada para
01-02 de junho, pode esclarecer esta questão.
Viktor Korotchenko apontou em entrevista à
Voz da Rússia:
“Evidentemente, podem surgir certas
nuanças. Diria contudo que a venda de armamentos é uma questão muito
específica, em que tudo depende das negociações bem-sucedidas e da compreensão
das vantagens de parceria pelas partes. Por isso não gostaria de expressar
avaliações pessimistas em relação à Venezuela – ainda há um campo para a cooperação.
Neste caso, sou otimista e espero que sejam assinados novos contratos.”
Em qualquer caso, considera Igor
Korotchenko, é necessário dispensar atenção ao fato de termos perdido em poucos
anos o mercado militar do Irã e da Líbia e de estarem congelados os
fornecimentos de armas à Síria.
No entanto, nos últimos anos a Rússia
alcançou um volume recorde nas exportações militares, superior a 15 bilhões de
dólares, graças a produtores russos de armamentos competitivos e a uma equipe
eficaz na corporação estatal Rosoboronexport.
Em breve, poderemos ouvir falar sobre
novos contratos concluídos com países que nunca foram compradores tradicionais
de armas russas. Se o cenário de desenvolvimento da cooperação técnico-militar
com a Venezuela for desfavorável, a Rússia encontrará possibilidades de
compensar essa perda em outros mercados.
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