Com ensino e cultura ainda no século 18 o Brasil continua em 2014 a ser um gigante de pés de barro.
Verdades que não podem ser definitivas.
Algumas teses passam por verdades. Não estar de acordo com elas permite-se fazer correções a essas “verdades inquestionáveis”.
1) Este é o pior Congresso de todos os tempos.
Não, não é:
este é apenas um Congresso “normal”, que reflete as realidades
políticas brasileiras, e os “tempos” ainda não acabaram. Teremos
Congressos ainda piores do que este, pela simples razão de que o Brasil
se encontra em plena construção de sua “democracia de massas”.
Inevitavelmente, assim, que as antigas representações elitistas sejam
podadas em favor de novos representantes das classes populares e de
setores organizados: sindicatos, igrejas, movimentos sociais, grupos de
interesse setorial, etc. O sistema político é uma importante modalidade
de ascensão social, atraindo arrivistas e oportunistas que têm no
Congresso um excelente vetor de “negócios” de todo gênero.
2) A Carga tributária brasileira já bateu no teto, impossível subir mais.
Outro ledo
engano. Não há limite teórico para a carga tributária, embora possa
haver limites práticos, dada a conhecida relação entre taxação e
receitas. Quem disse que a carga tributária não pode aumentar mais não
conhece a sanha arrecadatória da nossa máquina fiscal, uma das mais
eficientes do mundo. As despesas contratadas têm de ser financiadas pelo
Estado têm de ser financiadas de alguma forma e o governo vem criando
novas fontes de gastos por meio dos programas sociais. Ou seja, vamos
continuar pagando cada vez mais para o Estado cobrir essas “obrigações”,
que, diga-se de passagem, são demandadas pela própria sociedade. O povo
brasileiro adora o Estado, implora que o Estado venha em seu socorro
com programinhas sociais ou com alguma nova prestação especial.
3) A corrupção atingiu limites nunca vistos, não é mais possível continuar assim.
Difícil
saber, pois não dispomos de um “corruptômetro” para medir avanços e
recuos da corrupção. Quantos “por cento” do Produto Interno Bruto (PIB)
são intermediados de maneira heterodoxa? Difícil saber, não é mesmo? Não
temos base de comparação, histórica ou atual. O certo é que a corrupção
tende a aumentar quando fluxos de receitas e de pagamentos transitam
pelos canais oficiais, uma vez que transações puramente privadas são
vigiadas pelas partes, cada uma cuidando do seu rico dinheirinho. O
dinheiro da “viúva” é um pouco de todo mundo: existem existem milhares
de programas “essenciais” para o bem estar público, objeto de
planejamento, discussão congressual, alocação, empenho, licitação,
leilão, concorrência, doação, etc. É evidente que num sistema assim
alguns dos muitos intermediadores encontrarão alguma maneira de desviar o
dinheiro “público” para seu próprio usufruto. Quanto maior proporção do
PIB brasileiro passar pelos canais públicos, maiores serão as
oportunidades de corrupção A corrupção só diminuirá quando menores
volumes de recursos passarem pelos canais oficiais. Elementar, não é
mesmo?
4) A qualidade da educação já atingiu patamares mínimos, tem de melhorar.
Os
otimistas incuráveis acham que a escola pública já piorou o que tinha de
piorar e que daqui para a frente o movimento será no sentido de sua
melhoria. Mas ainda não atingimos o fundo impunemente produzindo efeitos
deletérios sobre o nosso sistema de ensino. Acreditem, não há nenhum
risco de melhoria da educação brasileira no futuro previsível.
5) O Brasil está condenado a ser grande e importante, é o país do futuro.
Essas
tiradas patrioteiras nunca me comoveram, pela simples razão de que
tamanho não é documento. A China sempre foi enorme, gigantesca, e decaiu
continuamente durante três ou mais séculos, antes de começar a
reerguer-se, penosamente, nas últimas décadas do século 20. Ela está
longe, ainda, de ser um exemplo de prosperidade para o seu povo, mesmo
que possa já ser uma potência militar e que venha a ser, brevemente uma
potência tecnológica, também. A Rússia sempre foi um gigante de pés de
barro, seja no antigo regime czarista, seja durante os anos de
socialismo senil, até se esboroar na decadência política e no
capitalismo mafioso, do qual o país ainda não se recuperou.
O Brasil
sempre foi grande, e pobre, não absolutamente, mas educacionalmente
paupérrimo, miserabilíssimo no plano cultural. Somos hoje um país
totalmente industrializado – repito, totalmente – e uma potência no
agronegócio, mas não deixamos de ser pobres, educacionalmente falando.
Ainda estamos no século 18 em matéria de ensino quando não de cultura.
Bem sei que dispomos, atualmente, que dispomos de um sistema de produção
científica que se situa entre os 20 melhores do mundo, mas isso atinge,
se tanto, uma mínima parcela da população, uma superestrutura
extremamente fina em termos sociais. O que vale, em última instância,
não é poder econômico absoluto, mas o poder relativo e, sobretudo bem
estar e prosperidade para a população, qualidade de vida, e nisso
estamos muito aquém do desejável. O Brasil continuará sendo um gigante
de pés de barro enquanto não resolver problemas básicos no interior de
suas fronteiras. Para mim, ele continua pequeno…
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