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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O Afeganistão e os 10 Anos de Guerra

"Levar mais tempo para conseguir menos do que inicialmente pretendíamos também está custando mais do que qualquer um imaginaria. Ainda em 2003, o conselheiro econômico da Casa Branca Lawrence Lindsey sugeriu que invadir o Iraque poderia custar até US$ 200 bilhões – uma soma aparentemente astronômica. Embora Lindsey logo tenha ficado sem emprego como consequência, ele se mostrou um pão-duro. A conta de nossas guerras pós-11/9 já passa de um trilhão de dólares, tudo isso em cima de nossa crescente dívida pública. Com a ajuda nada desprezível das políticas de guerra de Obama, a contagem continua.

E então, estamos quase lá? De jeito nenhum. A verdade é que estamos perdidos no deserto, tropeçando por uma estrada não sinalizada, odômetro quebrado, GPS estragado e ponteiro do combustível um pouco acima do zero. Resta a Washington torcer para que o povo norte-americano, cochilando no banco de trás, não note."


* Andrew J. Bacevich é professor de Relações Internacionais na Universidade de Boston, militar aposentado e autor de diversos livros, como American Empire: The Realities and Consequences of US Diplomacy (2002), The New American Militarism: How Americans are Seduced by War (2005) e The Limits of Power: The End of American Exceptionalism (2008). Artigo originalmente publicado na revista The Nation.


Quando no final de 1979 forças soviéticas cruzaram a fronteira e outras desembarcavam em Cabul, num total de 115 mil combatentes, depondo um claudicante governo comunista, também se tomaram decisões estratégicas que, ao invés de encerrar rapidamente o conflito, tornaram-o um atoleiro.
A 105ª Aeroterrestre de Guardas (elite), acrescida por outras 3 divisões de fuzileiros (infantaria) motorizadas, 5 brigadas independentes e mais 3 regimentos cumpriam uma missão que incluía manter um aliado regional, conter uma possível expansão da Revolução Iraniana rumo às províncias islâmicas do sul da URSS e aproximar o limes soviético para mais perto do Índico.
Mas ao fazer a transposição da doutrina da guerra blindada - base das prováveis operações na Europa centro-ocidental - para as desérticas e rochosas terras afegãs, os soviéticos enfatizaram, inicialmente, o domínio dos centros urbanos, dos corredores de comunicação e de instalações militares.  Como resultado de tal estratégia, segundo Alessandro Visacro, os guerrilheiros assumiram o domínio físico de grandes porções territoriais e sobre isso impuseram seu controle.
A escalada de custos materiais e humanos, somada a continuação das operações militares e uma crescente percepção da "invencibilidade" do conflito naqueles termos, levou a uma reformulação com uma política de terra arrasada.  Mais caças de ataque terrestre, uso de armas químicas como a mortal Chuva Amarela (derivada de um fungo do trigo), mais helicópteros de combate e o aumento das operações de spetsnaz (comandos) em confrontos diretos com as guerrilhas ainda assim, foram insuficientes para conter o que era, na verdade, não UMA mas sim uma multiplicidade de revoltas tribais contra um invasor.
O colapso da disciplina, aumento nos casos de álcool e drogas, crimes de guerra envolvendo estupros, tortura e chacinas, o suporte militar ocidental aos guerrilheiros, a impossibilidade de vedar efetivamente a fronteira afegã-paquistanesa e cortar seu abastecimento, a barreira cultural que unia pela religião o que a doutrina política separava - permitindo um continuado recrutamento de combatentes agora jihadistas - formam um rosário de causas para explicar a derrota.

Mesmo evidenciando que parte das razões soviéticas não estão mais presentes, ainda assim existem muitos pontos de convergência.  E como consequência, a possibilidade de repetição da derrota também se reafirma.
Se as forças internacionais da ONU, sob comando dos EUA, não forem capazes de estabilizar o país com a estruturação de instituições civis e militares minimamente eficazes, a guerra se configurará como um outro "pântano".
Um bom indício de solução é a real organização de um Exército local, capaz de assumir as funções que hoje são, ou deveriam ser, exercidas pelos militares estrangeiros.  Noutras palavras.  Uma "afeganistização" da guerra, permitiria desafogar os encargos da missão internacional e confrontar o Talibã e jihadistas estrangeiros, pelos próprios afegãos.
Isso para que não se cumpra o sombrio prognóstico do general Petraeus:  “Esse é o tipo de batalha na qual estaremos pelo resto de nossas vidas e, provavelmente, das vidas de nosso filhos.”



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