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Antônio Machado
- Estado de Minas
Publicação:
09/12/2012 06:00 Atualização: 09/12/2012 11:46
Que a economia não está bem, apesar do
emprego em nível recorde, é sabido. A queda dos investimentos na produção pelo
quinto trimestre consecutivo até setembro atesta o diagnóstico. Mas não levam a
nada nem o pessimismo nem os pacotes seriados ao sabor da conjuntura.
Foi mal, por exemplo, o ministro Guido
Mantega declarar que pedira explicações ao IBGE sobre o crescimento de 0,6% do
Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, e de 0,9% em base anual,
como se o problema estivesse na metodologia das contas nacionais. Na busca de
justificativas para a frustração, ameaçou-se a credibilidade de uma instituição
de Estado com um longo histórico de seriedade.
Houve até quem questionasse o registro dos
resultados da atividade financeira, que recuou 1,3% na margem, levando o setor
de serviços, responsável por 68% do PIB, a estagnar entre o segundo e terceiro
trimestre. Que tivesse crescido 1% e o PIB viria baixo de qualquer jeito. Tais
distrações desviam o foco das questões relevantes.
Preocupa, em primeiro lugar, a demora de
resposta do investimento, depois da baciada de incentivos para impulsioná-lo.
E, segundo, que a economia mostrou, ao avançar 0,6% em bases correntes,
importante recuperação em relação às taxas anteriores, em torno de 0,1%/0,2%.
Tais movimentos levaram a um crescimento
desequilibrado, expresso pelas vendas do comércio crescendo muito acima da
expansão do PIB em contraponto ao declínio da produção industrial. É esse gap o
que ameaça a estabilidade econômica. Mas a médio prazo, não já.
Por agora também há sinais de recuperação
do ritmo da produção em resposta mais até à redução do comprometimento da renda
disponível com o pagamento de prestações de dívida (que evolui em ciclos) que
às medidas acionadas pelo governo para estimular o consumo.
Não é a situação corrente da economia o
que está em causa, embora seja isso o que apontam os economistas que projetam
outro resultado pífio do PIB em 2013. E o próprio governo, ao anunciar medidas,
uma após outra, que acabam enchendo o balão do consumo e a demanda por
serviços. Por isso os seus preços correm acima da inflação, minando a
competitividade da indústria também por tal motivo, já que ela é demandante de
serviços, e não apenas pelos salários em alta, função do mercado de trabalho
apertado e da reversão do viés demográfico.
Dinheiro sobre a mesa
O que se destaca nesse cenário é que a
presidente Dilma Rousseff passou a citar a recuperação da indústria e o
crescimento movido a investimento como prioridades de governo.
Independentemente do modo truculento como tem passado à prática tais
diretrizes, a redução da tarifa de energia elétrica e as concessões de serviços
geridos pelo Estado representam uma importante inflexão em relação ao modelo de
crescimento impelido pelo endividamento do consumidor.
Em algum momento tais incentivos vão ter
efeito, sobretudo no caso dos projetos de infraestrutura licitados à iniciativa
privada. Que não seja pelo resultado, o fato é que não se desperdiçam operações
em que o BNDES banca 80% do custo, dá cinco anos de carência, 25 anos de prazo
e cobra de 3% a 5% de juros – o pacote aos concessionários das futuras
licitações de ferrovias, portos, aeroportos, rodovias.
Um conselho simplório
O investimento em máquinas e equipamentos
está lento, mas o viés é de alta agora que o governo cortou para 5% ao ano a
taxa do BNDES e vai estender a depreciação acelerada. A condição é boa demais
para desprezar a oportunidade de modernizar instalações, justo quando as
indústrias não teem futuro sem maior automação e gasto em tecnologia.
A economia brasileira, como a de qualquer
país com uma sofisticada base industrial, dos EUA à China, da Alemanha ao
México, é bem mais complexa do que falam artigos simplórios como o da revista
inglesa The Economist, recomendando a demissão do ministro Mantega – a quem
responsabiliza pelo que chama de “colapso da confiança” por causa de suas
“projeções otimistas” furadas –, se Dilma quiser se reeleger.
Quem empata a economia
Dilma repeliu a sugestão dizendo que em
“hipótese alguma o governo (...) vai ser influenciado pela opinião de uma
revista que não seja brasileira”, dando a entender, certamente por descuido,
que poderia ouvir, se o conselho partisse, digamos, da Veja ou da Isto É.Não
era o caso de refutar, até porque, ao contrário do que infere The Economist,
não é a política econômica, que mal ou bem dá conta do serviço, o que empata a
economia. São as disfuncionalidades do governo (o que não é de somenos, com a
fatia do Estado na economia correspondendo a 40% do PIB) e a sua dificuldade de
compreender os interesses privados. Se desse tanta atenção a isso quanto
atribui a ações com impacto eleitoral, o governo seria eleito por aclamação.
**Imagem https://encrypted-tbn3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcT5g_KkACGhcYE4T6-CtlRKFlhiaOeDgNjdhe6isOMLZ7ONkf-w
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