Na Nicarágua tem pela frente um
“megaprojeto do século XXI” no valor de 40 bilhões de dólares. O parlamento da
república aprovou a lei que concede a uma companhia chinesa o direito de
construir o novo canal que irá ligar o oceano Atlântico ao oceano Pacífico.
Para a Nicarágua, um valor de dezenas
bilhões de dólares é algo absolutamente inatingível mas a ideia, lançada por
Manágua, foi aceite de bom grado pelos parceiros chineses da companhia
Nicaragua Canal Development Investment. As vantagens que o projeto irá
proporcionar aos habitantes da Nicarágua são evidentes: a construção do canal
gera dezenas de milhares de postos de trabalho e, numa perspetiva mais próxima,
grandes lucros para o Estado. Manágua terá também dividendos políticos: as
posições dos sandinistas no país serão mais sólidas e a influência da Aliança
dos Povos da América Latina (ALBA) será mais ampla.
Quanto à China, ela continua a ampliar
persistentemente a zona dos seus interesses econômicos. Na política, da mesma
maneira que no xadrez, a luta pelas casas disputáveis do tabuleiro tem uma
importância enorme. “A supremacia no espaço é a condição para a ulterior
ofensiva”, – este postulado da estratégia do antigo jogo de xadrez foi citado
pelo grande mestre internacional Alexei Kuzmin.
“O espaço e a comunicação – estes dois
fatores completam-se mutuamente tanto na estratégia de xadrez como na
geopolítica econômica. A vantagem no espaço permite transferir rapidamente as
forças do um flanco para outro e o desenvolvimento das comunicações entre os
flancos é um importante fator de novos ataques. Um grande mestre admite, às
vezes, inclusive sacrifícios materiais a fim de ocupar as casas mais
importantes do tabuleiro. A eficiência desta estratégia foi confirmada
reiteradas vezes por vitórias dos virtuosos do jogo posicional – os campeões
mundiais russos Anatoli Karpov e Vladimir Kramnik.”
A China leva a cabo já há vários anos uma
política de ampliação do controle sobre as comunicações que ligam os dois
oceanos. Há alguns anos, a gestão dos portos San Cristobal e Balboa do canal do
Panamá foram entregues por um prazo de 25 anos a uma companhia de Hong Kong,
que pertence a Li Ka Chen, um dos homens mais ricos da China. Nos planos do
Império Celeste consta também a construção, juntamente com a Colômbia, de uma
ferrovia que irá ligar os portos do Pacífico aos portos do mar das Caraíbas. E,
eis, agora um novo projeto – o canal da Nicarágua. Pode-se afirmar que no setor
centro-americano do tabuleiro mundial de xadrez a China joga no estilo de
grandes mestres.
A construção do canal da Nicarágua afeta
os interesses dos EUA. A nova artéria, que vai ligar os oceanos Atlântico e
Pacífico, será uma alternativa ao canal do Panamá que esteve até 1999 sob o
controle dos EUA. Mas a prática comprova que ocupar um espaço ainda não
significa utilizá-lo com eficiência, – prossegue Alexei Kuzmin.
“A
ocupação formal de novos segmentos do tabuleiro de xadrez nem sempre
proporciona uma vantagem real e pode, inclusive, proporcionar um resultado
negativo. Isto foi comprovado reiteradas vezes por Robert Fischer, campeão
genial dos EUA. A sua estratégia predileta era o ataque contra o centro,
ocupado pelos peões do adversário. A construção do canal na Nicarágua, – um
país que leva a cabo uma política independente em relação aos EUA, – é mais um
passo na renúncia por parte dos EUA ao controle econômico sobre os países da
América Central. Não é de admirar, portanto, que os EUA tenham propagado já há
vários anos a tese de que esta obra não teria “perspectivas econômicas”.
”40 bilhões de dólares é um valor muito
significativo. É impossível imaginar que os “grandes mestres” da economia
chinesa não fizessem uma análise cuidadosa da rentabilidade deste “projeto do
século XXI” antes de se decidir por um lance estratégico tão caro. A existência
de riscos econômicos é indubitável. Não se pode esquecer que o processo de
modernização do canal do Panamá vai de vento em popa. Em poucas palavras, o
duelo geopolítico entre o Império Celeste e os EUA está em pleno auge: a
ofensiva da China contra os interesses econômicos de Washington na América
Central continua.
Autor: Andrei
Smirnov
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