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quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Diante do Mosaico - A África Num Recorte de Diversidades



FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DUQUE DE CAXIAS – FEUDUC
FACULDADE DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS DE DUQUE DE CAXIAS
Centro de Pós-graduação, Especialização e Aperfeiçoamento – CEPEA
Departamento de História
Curso de Pós-graduação Lato Sensu: História e Cultura Africana(s) e Afro-brasileira(s)









Trabalho final da disciplina Ensino de História da África e Cultura Afro-brasileira – Módulo 2





Aluno(a): Cláudio de Almeida









Rio de Janeiro
Janeiro de 2017
                Mosaico.  Assim olhamos para o continente africano de modo a dar conta de uma multiplicidade de realidades, distintas, convergentes ou não, contemporâneas entre si ou díspares no tempo.  Pelo lado da geografia, seu sentido Norte-Sul apresenta diferentes biomas que vão do deserto saariano às florestas tropicais e savanas.  Já no sentido Leste-Oeste, os regimes eólicos e das correntes no Atlântico contribuíram para bloquear a junção entre o Magreb e o Mediterrâneo e a zona meridional. Já na Contracosta, o domínio das monções permitia que se conectassem hindus e árabes com as populações nativas.
            Logo, nosso olhar demanda, por cautela e precisão, à pluralidade.
            Fator importante também foi a baixa densidade populacional que acabou por contribuir para o isolamento dos diferentes grupos que se iam formando, crescendo e complexificando.  Das civilizações nilóticas até os mais rudimentares grupos de caçadores-coletores o espaço geográfico muito contribuiu para bloquear os contatos entre estas populações, restringindo as trocas de conhecimento, das soluções encontradas para diferentes problemas e assim, limitando as oportunidades de agregar técnicas, criatividade e melhoramentos em níveis mais complexos quando se olha para o continente como um todo.  Fossem as altas montanhas etíopes, as cataratas do Nilo, maciças florestas, o Saara cada vez mais extenso pelo avanço da desertificação, tudo isso restringia – porém não impedia – o trânsito humano.  Dificultava; não segregava.
            A medida em que os grupos humanos cresciam em tamanho urgiam o desenvolvimento de técnicas produtivas e organizacionais, de forma a dar conta da produção de subsistência, e posteriormente, de excedentes e destes, seu intercâmbio com outras comunidades.  A transição de populações nômades para sedentárias e a conversão das aldeias em cidades (pequenas em seu nascedouro), davam as mãos com o desenvolvimento de estruturas sociais mais complexas.  Seu desdobramento era que, no tempo, surgissem atividades cada vez mais específicas, como o comércio, quando a produção atingiu um nível acima da acumulação para a simples, porém vital, reserva de subsistência.
            Considerando a diversidade de biomas acima citada, a fragmentação das comunidades contribuiu para restringir a dinâmica de trocas entre os extremos do continente, de forma regular e generalizada, limitando igualmente a circulação de mercadorias e bens, de utensílios, modos de vida e trabalho, ideias enfim, que somassem os ganhos materiais e imateriais de forma coesa e em benefício de todos. 
            Mesmo assim, aldeias convertiam-se em cidades, estas se muravam por segurança e conforto, os tratos diversificavam-se e estendiam-se, evoluindo do intercâmbio de poucos e restritos excedentes para caravanas cameleiras, fluviais, a pé, costeiras, transregionais, transcontinentais, etc. cada vez mais regulares, metódicas, diversificadas e previsíveis.  Mesmo os vazios demográficos, filhos de um ambiente inóspito ou hostil, que tocava as várias regiões onde a densidade populacional crescia, como o Benin, Biafra, Napata, Meroé ou o Egito, apresentavam-se agora mais como uma dificuldade do que um obstáculo. 
            Metalurgia, mineração, ourivesaria, ouro em pó, óleos, cera, madeiras, alimentos, incenso, tecidos, ferramentas, material de construção, sal, animais de transporte, ideias, sonhos, esperanças, mas também gentes com suas histórias e infortúnios, sorte e desgraça.  Pelo comércio teciam-se laços que nascidos tênues, ganhavam envergadura e ligavam paulatinamente a África com o Índico, o Mediterrâneo, a Ásia, a Europa e, posteriormente, a América e os afluentes da diáspora do trato “de gentes”.
            Elemento correlato à ocupação do continente está a construção de uma cosmogonia para as populações residentes que, “O preconceito teima em chamar, entretanto, tribos nações africanas (...) de mais de sessenta milhões de pessoas, como os hauçás, ou superiores ou semelhantes em número às populações da Bélgica, do Chile ou da Suécia (...)”  (SILVA, 2003, p.58).  No Daomé, por exemplo, a comunidade abarcava não só os vivos como os mortos, fossem os ascendentes ou os descendentes daqueles.  Uma concepção intemporal onde o presente – tempo dos vivos – se mescla ao tempo dos ancestrais, dos mortos, da coletividade.
            E sendo tais coletividades enormemente díspares em trajetórias e complexidades, era natural que se apresentasse similar reprodução disto quando se trabalha com as cosmogonias destas.  Como por exemplo o que se observa em Meroé e Napata.  Influenciadas pela cultura egípcia, dela se distinguiam porém em relação a, entre outros aspectos, o caráter eletivo de suas monarquias.  Os reis eram entendidos como indivíduos adotados por diferentes divindades mas não se sabe se viam-se, eles próprios como divinos ou representantes daquela (s) divindade (s).  E assim, escolhido por interferência do sobrenatural podiam distribuir a justiça julgando de acordo com a vontade de deus ou dos deuses (MOKHTAR, 2010, p.303).
             Outrossim, se observa na região do Chade atual que os denominados senhor da terra ou dono da terra evocavam a existência de uma “...nação mítica (muitas vezes de gigantes ou pigmeus); um animal verdadeiro (...) ou um bicho fantástico” (SILVA, 2011, p.29).
            Tais mitos conferiam legitimidade a governantes, aristocracias, cultos religiosos, grupos militares etc. servindo, portanto para revesti-los com a necessária soberania sobre os indivíduos, os recursos da terra, as atividades produtivas e assim por diante.
            Mosaico, enfim.  Tantas partes....isoladas são caóticas.  Reunidas....um sentido.






REFERÊNCIAS
SILVA, Alberto da Costa e.  Um Rio Chamado Atlântico – a África no Brasil e o Brasil na     África. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2003.
SILVA, Alberto da Costa e.  A Enxada e a Lança – a África Antes dos Portugueses. 5ª ed. Revista e ampliada, Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2011. (epub)
História Geral da África . II: África Antiga. Editado por Gamal Mokhtar, 2ª ed. rev. Brasília: UNESCO, 2010.

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