FUNDAÇÃO
EDUCACIONAL DUQUE DE CAXIAS – FEUDUC
FACULDADE
DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS DE DUQUE DE CAXIAS
Centro
de Pós-graduação, Especialização e Aperfeiçoamento – CEPEA
Departamento
de História
Curso
de Pós-graduação Lato Sensu: História e Cultura Africana(s) e Afro-brasileira(s)
Trabalho
final da disciplina Ensino de História da África e Cultura Afro-brasileira –
Módulo 2
Aluno(a): Cláudio de Almeida
Rio
de Janeiro
Janeiro
de 2017
Mosaico. Assim olhamos para o continente africano de
modo a dar conta de uma multiplicidade de realidades, distintas, convergentes
ou não, contemporâneas entre si ou díspares no tempo. Pelo lado da geografia, seu sentido Norte-Sul
apresenta diferentes biomas que vão do deserto saariano às florestas tropicais
e savanas. Já no sentido Leste-Oeste, os
regimes eólicos e das correntes no Atlântico contribuíram para bloquear a
junção entre o Magreb e o Mediterrâneo e a zona meridional. Já na Contracosta,
o domínio das monções permitia que se conectassem hindus e árabes com as
populações nativas.
Logo, nosso olhar demanda, por
cautela e precisão, à pluralidade.
Fator importante também foi a baixa
densidade populacional que acabou por contribuir para o isolamento dos
diferentes grupos que se iam formando, crescendo e complexificando. Das civilizações nilóticas até os mais
rudimentares grupos de caçadores-coletores o espaço geográfico muito contribuiu
para bloquear os contatos entre estas populações, restringindo as trocas de
conhecimento, das soluções encontradas para diferentes problemas e assim,
limitando as oportunidades de agregar técnicas, criatividade e melhoramentos em
níveis mais complexos quando se olha para o continente como um todo. Fossem as altas montanhas etíopes, as
cataratas do Nilo, maciças florestas, o Saara cada vez mais extenso pelo avanço
da desertificação, tudo isso restringia – porém não impedia – o trânsito humano. Dificultava; não segregava.
A medida em que os grupos humanos
cresciam em tamanho urgiam o desenvolvimento de técnicas produtivas e
organizacionais, de forma a dar conta da produção de subsistência, e
posteriormente, de excedentes e destes, seu intercâmbio com outras comunidades. A transição de populações nômades para
sedentárias e a conversão das aldeias em cidades (pequenas em seu nascedouro),
davam as mãos com o desenvolvimento de estruturas sociais mais complexas. Seu desdobramento era que, no tempo, surgissem
atividades cada vez mais específicas, como o comércio, quando a produção
atingiu um nível acima da acumulação para a simples, porém vital, reserva de
subsistência.
Considerando a diversidade de biomas
acima citada, a fragmentação das comunidades contribuiu para restringir a
dinâmica de trocas entre os extremos do continente, de forma regular e
generalizada, limitando igualmente a circulação de mercadorias e bens, de utensílios,
modos de vida e trabalho, ideias enfim, que somassem os ganhos materiais e
imateriais de forma coesa e em benefício de todos.
Mesmo assim, aldeias convertiam-se
em cidades, estas se muravam por segurança e conforto, os tratos diversificavam-se
e estendiam-se, evoluindo do intercâmbio de poucos e restritos excedentes para
caravanas cameleiras, fluviais, a pé, costeiras, transregionais,
transcontinentais, etc. cada vez mais regulares, metódicas, diversificadas e
previsíveis. Mesmo os vazios
demográficos, filhos de um ambiente inóspito ou hostil, que tocava as várias
regiões onde a densidade populacional crescia, como o Benin, Biafra, Napata,
Meroé ou o Egito, apresentavam-se agora mais como uma dificuldade do que um
obstáculo.
Metalurgia, mineração, ourivesaria,
ouro em pó, óleos, cera, madeiras, alimentos, incenso, tecidos, ferramentas,
material de construção, sal, animais de transporte, ideias, sonhos, esperanças,
mas também gentes com suas histórias e infortúnios, sorte e desgraça. Pelo comércio teciam-se laços que nascidos
tênues, ganhavam envergadura e ligavam paulatinamente a África com o Índico, o
Mediterrâneo, a Ásia, a Europa e, posteriormente, a América e os afluentes da
diáspora do trato “de gentes”.
Elemento correlato à ocupação do
continente está a construção de uma cosmogonia para as populações residentes
que, “O preconceito teima em chamar, entretanto, tribos nações africanas (...)
de mais de sessenta milhões de pessoas, como os hauçás, ou superiores ou
semelhantes em número às populações da Bélgica, do Chile ou da Suécia (...)” (SILVA, 2003, p.58). No Daomé, por exemplo, a comunidade abarcava
não só os vivos como os mortos, fossem os ascendentes ou os descendentes
daqueles. Uma concepção intemporal onde o presente – tempo dos
vivos – se mescla ao tempo dos ancestrais, dos mortos, da coletividade.
E sendo tais coletividades
enormemente díspares em trajetórias e complexidades, era natural que se
apresentasse similar reprodução disto quando se trabalha com as cosmogonias
destas. Como por exemplo o que se
observa em Meroé e Napata. Influenciadas
pela cultura egípcia, dela se distinguiam porém em relação a, entre outros
aspectos, o caráter eletivo de suas monarquias.
Os reis eram entendidos como indivíduos adotados por diferentes divindades
mas não se sabe se viam-se, eles próprios como divinos ou representantes
daquela (s) divindade (s). E assim, escolhido
por interferência do sobrenatural podiam distribuir a justiça julgando de acordo com a vontade de deus ou dos
deuses (MOKHTAR, 2010, p.303).
Outrossim, se observa na região do Chade atual
que os denominados senhor da terra ou
dono da terra evocavam a existência
de uma “...nação mítica (muitas vezes de gigantes ou pigmeus); um animal
verdadeiro (...) ou um bicho fantástico” (SILVA, 2011, p.29).
Tais mitos conferiam legitimidade a
governantes, aristocracias, cultos religiosos, grupos militares etc. servindo,
portanto para revesti-los com a necessária soberania sobre os indivíduos, os
recursos da terra, as atividades produtivas e assim por diante.
Mosaico, enfim. Tantas partes....isoladas são caóticas. Reunidas....um sentido.
REFERÊNCIAS
SILVA,
Alberto da Costa e. Um Rio Chamado Atlântico – a África no Brasil e o Brasil na África. Rio de Janeiro: Editora Nova
Fronteira, 2003.
SILVA,
Alberto da Costa e. A Enxada e a Lança – a África Antes dos Portugueses. 5ª ed. Revista
e ampliada, Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2011. (epub)
História
Geral da África . II: África Antiga. Editado por Gamal Mokhtar, 2ª ed. rev. Brasília: UNESCO, 2010.
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