A distorção entre bom
posicionamento econômico do Brasil – 7ª economia do mundo – e mau classificação
na área social – 85º no IDH – pode ser uma das causas da rápida elevação da
temperatura social no país. A pergunta que precisa ser agora respondida é: quanto
custará e de onde sairão os recursos para elevar a qualidade das áreas sociais?
Uma característica do Brasil é o
distanciamento da sua sétima posição entre as principais economias globais e
sua 85ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre 187
países.
O IDH é calculado pela média de três
fatores: educação (anos médios de estudos), longevidade (expectativa de vida da
população) e Produto Interno Bruto per capita. Cada fator pode variar entre
zero e um. Zero para a pior posição entre os 187 países e 1 para a melhor.
Na América do Sul, estamos pior que o
Chile (40º lugar), Argentina (45º), Uruguai (51º) e Peru (77º) e muito próximo
de países menores como Equador (89º) e Colômbia (91º).
Essa distorção entre bom posicionamento
econômico e mau classificação na área social, que o IDH procura captar, pode
ser uma das causas da rápida elevação da temperatura social que explode nas
ruas e praças de todo o País.
E agora?
Com a explosão social, que ninguém poderia
imaginar que pudesse ocorrer, a demanda por ampliação e melhor qualidade nas
áreas sociais ganhou relevância no debate público, surgindo a pergunta de
quanto custará isso e de onde sairão os recursos.
Na manchete de hoje (27/6) o Valor
Econômico estampa: "Demanda das ruas já tem custo de R$ 115 bi por
ano". É uma primeira estimativa considerando apenas os projetos de lei em
discussão no Congresso Nacional que afetam só o governo federal, sem considerar
os custos para estados e municípios.
Para a educação atingir 10% do PIB em
valores de hoje seriam necessários mais R$ 71 bilhões, mantida sua participação
atual de 33,2% nas despesas públicas com educação. Os estados e municípios
responsáveis por 66,8% da despesa teriam que passar dos atuais R$ 182 bilhões
para R$ 325 bilhões, com acréscimo de R$ 143 bilhões (!). Esse último valor não
foi computado nos R$ 115 bilhões.
Os dois projetos para a área da saúde
preveem despesas correspondendo a 10% da receita corrente bruta da União. Em
2012 as despesas foram 6,9%. Para passar a 10% seriam necessários a mais R$ 40
bilhões.
Quanto ao transporte coletivo está
previsto, por enquanto, apenas a desoneração do PIS e Cofins dos insumos do
transporte coletivo, principalmente, do diesel para os ônibus e energia
elétrica para trens e metrô. Isso daria R$ 4 bilhões por ano.
Resumindo só para o governo federal:
Educação R$ 71 bilhões, Saúde R$ 40 bilhões, Transporte R$ 4 bilhões. Total R$
115 bilhões.
Com toda certeza os valores para o
transporte coletivo para reduzir a tarifa e investir em equipamento e viário
urbano alcançariam mais de uma centena de bilhão de reais por ano.
De onde sairiam esses recursos? Para
educação está previsto 75% dos royalties do petróleo. Para saúde 25% desses
royalties. Serão suficientes? Não dá ainda para estimar e os recursos
adicionais só irão aparecer aos poucos e não na velocidade imposta pelas ruas.
Fato é que profunda reviravolta irá
ocorrer na composição das despesas públicas com avanço principalmente nas
despesas de custeio, onde se situa a área social. Se já não sobravam recursos
para investir, com as despesas de custeio muito aquém da prestação de serviços
à área social, daqui para a frente as análises que defendem os investimentos do
governo federal como mola mestra da retomada do crescimento podem botar as
barbas de molho, pois desta cartola não vão sair coelhos.
Vai-se assistir pressão constante para
recuperar o atraso histórico com o pouco caso com a área social.
Creio que os recursos independentes do
petróleo só podem sair do concurso de três ações: a) redução da Selic para 5%;
b) crescimento econômico de 5% e; c) eficaz gestão das despesas públicas.
Selic – O mal que a Selic causa nas
finanças públicas é por demais conhecido. A despesa com juros da dívida do
governo federal estão em R$ 16 bilhões por mês (média primeiro trimestre) ou R$
192 bilhões por ano (!). Isso sem contar o custo de carregamento das reservas
internacionais e o rombo causado pela bomba de sucção de dólares como resultado
das aplicações dos especuladores internacionais nos títulos do governo federal,
agora isentos do IOF. O estrago é monumental.
Defendo a imediata suspensão da emissão de
títulos para saldar o déficit fiscal passando o Tesouro Nacional a demandar ao
Banco Central a emissão monetária para isso, como vem fazendo os Estados
Unidos, Europa e Japão entre outros vários países que estão injetando liquidez
em suas economias para desvalorizar suas moedas e assim, ganhar musculatura
para competir no mercado externo. Os Estados Unidos, principal emissor atua
pelo Fed (banco central americano) comprando com a emissão monetária US$ 85
bilhões por mês há vários meses.
O Brasil tem uma das mais baixas liquidez
do mundo, de apenas 6% do PIB, enquanto a média internacional caminha acima de
50%. Ao desvalorizar o real ganha-se poder de competição ampliando exportações
e reduzindo importações no rumo do equilíbrio das contas externas que só poderá
ocorrer com o real acima de R$ 3.
A reação imediata a essa proposta é o
aumento da inflação. De fato num primeiro momento é isso que ocorre, mas o que
é importante a considerar é que a forte disputa internacional aliada aos altos
preços internos, pela elevada carga tributária e juros, abre espaço suficiente
para acomodar a redução em dólares dos bens importados.
Quem opera no mercado internacional sabe
que os preços dos produtos ofertados se amoldam aos mercados para os quais se
destinam. É a regra ditada pela concorrência e da busca da maximização do lucro
e/ou não perda de participação no mercado.
Vale frisar que em 2011 o câmbio foi R$
1,67/US$ e a inflação 6,5%. Em 2012 passou para R$ 1,96/US$, com desvalorização
de 17,4% e a inflação que deveria subir caiu para 5,8%. E isso com o agravante
do choque agrícola que contaminou o preço dos alimentos.
Crescimento – Nada melhor para as finanças
públicas do que o crescimento econômico. É dele que depende a arrecadação
pública. Com baixo crescimento como os atuais 2% ao ano a arrecadação mal
acompanha o crescimento do PIB, pois cresce a inadimplência tributária pela
piora das finanças das pessoas e das empresas. Com crescimentos da ordem de 4%
a 5% ao ano a arrecadação tende a se situar em dois a três pontos acima do PIB
pela redução da inadimplência e pelo pagamento do atrasado tributário na época
de maior dificuldade financeira.
Creio que o melhor motor do crescimento é:
a) reduzir as taxas de juros ao tomador, hoje na casa de 88% ao ano, segundo a
Anefac; b) posicionar o câmbio mais próximo a R$ 3, para permitir que a
expansão do consumo possa ser atendida pela produção interna.
Gestão – É péssima a gestão de despesas no
setor público. Uma pálida amostra disso é a total ausência de conhecimento do
custo do transporte coletivo para a fixação das tarifas que são impostas aos
usuários. Só agora isso aflora de forma contundente e os prefeitos se apressam
a procurar o que já deveria ser conhecido.
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