ERNESTO, LODOÑO, THE WASHINGTON
POST, É JORNALISTA - O Estado de S.Paulo
Quando os EUA aprovaram o envio de uma
delegação do Taleban ao Catar, em 2011, esperavam que o pequeno emirado do
Golfo Pérsico fosse um lugar propício para conversações para pôr fim a dez anos
de guerra.
O Taleban tinha ambições bem maiores:
aproveitar o escritório como base diplomática para se posicionar como força
política em ascensão no Afeganistão, enquanto os EUA se preparam para sair do
país. O sinal mais claro dos seus objetivos é a recente viagem a Teerã de
representantes do Taleban com sede em Doha.
Há
novas evidências de que o grupo militante e seus interlocutores afegãos e
americanos têm posições diferentes em relação ao escritório aberto na semana
passada. Sua inauguração transformou-se num fracasso para os EUA, que tiveram
trabalho para aplacar a ira do governo afegão quando o Taleban desfraldou sua
bandeira e instalou uma placa com os dizeres: Emirado Islâmico do Afeganistão,
como o Afeganistão era chamado no governo Taleban, nos anos 90.
O atrito diplomático entre Washington e
Cabul provocou o congelamento das negociações de um acordo sobre segurança, que
permitiria que as tropas americanas permanecessem no país depois de 2014.
Os enviados do Taleban a Doha vinham se
mantendo discretos, hospedados em hotéis de luxo sob a rigorosa vigilância do governo
do Catar. A discrição acabou no início do mês, quando anunciaram a viagem de
seus emissários a Teerã a convite do governo iraniano. Não é o primeiro contato
entre o governo xiita de Teerã e o Taleban sunita, que têm um longo passado de
desconfianças e animosidade, em parte em razão das conflitantes ideologias
religiosas.
A primeira reunião aberta entre as duas
partes poderia passar por cima das divergências sectárias por objetivos comuns:
minar a posição dos EUA, rival comum, e conseguir que as forças militares
americanas deixem definitivamente a região quando o mandato da Organização do
Tratado do Atlântico Norte (Otan) expirar, no fim de 2014. "A viagem pode
ser considerada o início de relações diplomáticas regionais de alto nível sem
que tenhamos sido consultados", disse Vali Nasr, ex-funcionário do
Departamento de Estado.
A ambição do Irã é exercer maior
influência no Afeganistão e isso preocupa os EUA, que consideram Teerã um sério
fator de desagregação desde a guerra do Iraque. Funcionários americanos
acusaram o Irã de alimentar a violência no Iraque enviando milícias e de
prestar ao Taleban uma limitada assistência militar. O Taleban, cujos
principais líderes estariam no Paquistão, há muito aspira voltar ao poder e tem
procurado manter uma espécie de Estado soberano nas províncias que domina.
Com a retirada das forças dos EUA do país
e o mandato do presidente afegão Hamid Karzai terminando, provavelmente no
próximo ano, o Taleban não se sente motivado a procurar uma negociação séria
que possa levar ao cessar-fogo. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILL
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