Nos primeiros dias do novo ano, vários países africanos
receberam o ministro das Relações Exteriores chinês e o
primeiro-ministro japonês. As promessas feitas foram generosas: Shinzo
Abe propôs aos amigos africanos 14 bilhões de dólares em investimentos,
Wang Yi aumentou a soma para 20 bilhões.
A visita do
ministro chinês à África no início deste ano, segundo dizem no
ministério, é uma tradição da diplomacia chinesa formada ao longo das
últimas décadas. Pequim não a quebrou no novo ano de 2014. O ministro
Wang Yi visitou a Etiópia, Djibuti, o Gana e Senegal, e também se
encontrou com líderes das partes em conflito no Sudão do Sul. Resumindo,
o ministério chinês observou: a primeira visita após a formação do novo
governo da China ajudou a fortalecer a posição de Pequim nesses países.
A
imprensa ocidental, obviamente, não deixou a tradição chinesa sem
atenção. Antes da chegada de Wang Yi à Etiópia, o The Wall Street
Journal lembrou o escândalo que continua desde o verão passado. Adis
Abeba assinou um contrato com os fabricantes chineses de equipamentos de
telecomunicações ZTE e Huawei para lançamento de redes 3G. O valor é de
1,6 bilhões de dólares, o contrato tem financiamento preferencial do
Export-Import Bank of China, e os pagamentos combinados a prestações
durante 13 anos. Mas, segundo dizem, houve suborno para determinar o
vencedor do concurso internacional para o projeto.
Quanto
aos métodos que Pequim usa para reforçar a sua posição em África, as
opiniões de especialistas são muitas vezes diametralmente opostas.
Assim, a perita do Instituto de África, Tatiana Deich, destaca que a
China está hoje fazendo para África mais do que qualquer outro país:
“Naturalmente,
a África valoriza isso. Em geral, é difícil competir com a China, mesmo
para países ocidentais. Em muitos casos, reconhecem os próprios
africanos, os países ocidentais fazem depender a sua ajuda de certas
condições políticas. A China não o faz. Ela colabora com todos. O seu
princípio fundamental: “Nós não interferimos nos assuntos internos dos
países africanos, nós ajudamos.”
De verdade, durante os
últimos sete anos, Pequim investiu na economia da África cerca de 50
bilhões de dólares. Como a China prioriza esta zona do mundo pode ser
visto no exemplo de um país – o Senegal. 99% das exportações do Senegal
para a China são peixe. Mas o interesse principal está dentro do país.
Especialistas chineses estão modernizando as redes elétricas para a
empresa estatal senegalesa de energia Senelec. Empresas da China se
encarregaram da modernização do sistema de transportes públicos, dos
portos de Kaolack e Fundiung. Desde 2007, a China Henan International
(CHICO) está realizando uma completa modernização de estradas, canais,
abastecimento de energia elétrica e de água na cidade de Tuba, um dos
centros islâmicos mais influentes do Senegal. Aqui também, é claro,
estão trabalhando especialistas em eletrônica das empresas Huawei e ZTE.
Como observou recentemente a publicitária russa Yulia Latynina, os
chineses estão de fato controlando toda a estrutura de energia,
transporte e telecomunicações do país. E tudo isso é pago por
empréstimos de bancos estatais chineses ao governo senegalês. Segundo o
mesmo esquema – e já há muito tempo – os chineses operam em outros
países africanos. Tal atitude “apolítica” e promiscuidade entre Governo e
negócios permite à China aumentar rapidamente a sua vantagem, acredita o
vice-diretor do Instituto de Análise Política e Militar, Alexander
Khramchikhin:
“O fato de a China estar comprando tudo na
África é, certamente, verdade. É essa a sua política – sem complexos. A
China não se preocupa com que tipo de regime existe num país, ela só
precisa de expansão econômica. E o essencial para a China não é o peixe,
mas, obviamente, o petróleo. Em geral, ela está interessada em todos os
tipos de recursos, e por eles serem mais baratos na África, para Pequim
esta é uma boa direção de expansão. Especialmente porque Pequim usa com
prazer esquemas de corrupção, ou seja, compra primeiro os dirigentes de
um país e depois os seus recursos.”
Em comparação com
as conquistas chinesas, a tentativa do Japão de se introduzir em
assuntos africanos parece um empreendimento questionável. Especialmente
tendo em vista que a viagem de Shinzo Abe foi a primeira visita de um
primeiro-ministro japonês à África nos últimos 8 anos. No entanto,
Tóquio se propõe objetivos ambiciosos: reforçar o seu estatuto de
potência global, competir com a China e encontrar fornecedores de
energia. Desta vez, os interesses econômicos, muito provavelmente,
parece serem secundários, notou o orientalista russo e professor da
Universidade de Moscou de Relações Estrangeiras Dmitri Streltsov:
“Na África, sem dúvida, há uma concorrência de modelos de desenvolvimento do chamado soft power.
A China está se posicionando como um país em desenvolvimento, enquanto o
Japão representa os países desenvolvidos, o Ocidente. Por isso, os
países africanos enfrentam a escolha entre os dois modelos de
desenvolvimento. E neste caso trata-se menos dos interesses pragmáticos
do Japão, e muito mais de assuntos globais e do posicionamento do Japão
como uma potência mundial responsável.”
Dada uma certa
especificidade dos regimes no poder na maior parte dos países da África,
podemos dizer que a escolha de um modelo político incomoda-os menos que
tudo. Mas a economia é algo que está perto e é compreensível. Ora é
provável que Tóquio tenha que repensar seus métodos de luta: a ideologia
na África de hoje é um bem de pouca demanda.
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